quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Notas de um suicida social

Na minha época de adolescente, eu tinha essa estranha mania de ouvir bandas pelas letras e pela postura, e não por popularidade ou osmose. Como eu fui estúpido, me deixando moldar por letras conscientes, relevantes, sem máscaras e sem filtros. Alguns de meus ídolos tinham essa ideia absurda de querer mudar o mundo, pode parecer estranho, mas isso não era um clichê, era só ideia e ação, bizarro né?
Essas influencias se transformaram em estigmas que levo comigo ainda hoje, me levando ao ponto extremo de as vezes me inconformar, as vezes protestar, e as vezes me fazer pensar como somos idiotas fingindo que está tudo bem. Malditos estigmas que tenho que carregar.

Os anos se passaram, fui deixando de lado aquelas ideias e aquelas bandas estranhas. Hoje sei que o que é realmente bom é o que vende, o que é procurado. O filtro é a massa... ah, que filtro confiável! As estatísticas provam. Pra que nadar contra a corrente? Esse fluxo natural é meu termo de qualidade!
Fico feliz com o que tem sido oferecido nos dias hoje e acho que o pessoal mais novo tá seguindo um caminho super saudável, super progressista! Afinal, o que move o Brasil é a alegria ( uma alegria super justificada) olha só, estamos quase no topo das economias mundiais! tá funcionando!
Ok, me despeço por aqui, já começou a novela. E lembrem-se, mais importante que ações, é o otimismo. Compartilhem correntes do bem e deixe o universo fazer sua parte!





Luciano O. Luz

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Fábula



Ah! Nostalgia que me embala nessa noite borrada por nuvens, leva-me a passados não vividos e futuros imaginários. Guia-me como que por pena, ao saber das humildes intenções de minha alma.
Leva-me mais longe, apaga meu presente, entorpece-me de fantasias, de medos, de glórias.
Faz-me viver entre príncipes da miséria, entre reis de favelas, entre mendigos da elite e os desgraçados da riqueza.
Abraça-me em outras terras, outras águas e ares. Mas que me sejam ainda familiares.

Leva-me, mas me traga de volta a tempo de começar a dormir, para que possas passar teu trabalho ao teu amigo sonho.

terça-feira, 5 de julho de 2011

A lei do ciclo do nitrogênio

A natureza dita as regras com mãos de ferro. Sob seu olhar frio e sarcástico, somos todos ingredientes da receita.
O ciclo do nitrogênio re-cicla toda matéria viva e a devolve para a atmosfera. (De onde talvez, nunca devêssemos ter saído). Mas a natureza é um artista que não quer saber se cria belas ou feras, apenas os cria.
No ciclo referido, toda a matéria orgânica se transforma novamente em nitrogênio, um dos ingredientes primários.
Várias bactérias conspiram juntas nessa atividade, e cada uma delas é uma operária importante na re-produção de matéria prima.
O processo é complexo, mas acontece mais ou menos assim: O nitrogênio é transformado em pelo menos três outros compostos por bactérias, as plantas se nutrem de algum desses compostos e os que não são capturados por elas são transformados em nitrogênio novamente por outras bactérias. Ok. E nós? Onde ficamos?
Alimentamo-nos (direta ou indiretamente) de plantas. Somos parte da cadeia alimentar. Nunca me considerei no topo dela, mas sei que estou lá, em algum lugar. Portanto possuímos a mesma essência, por mais que esse se alimente de produtos light com embalagens super descoladas, e o outro se alimente de grama.
Outra coisa que compartilhamos é o fim. Cada membro da cadeia, do gafanhoto ao tigre, do mendigo ao deputado, tem sua vida interrompida em algum momento. Alguns antes da hora, alguns demoram demais. Mas não sou eu quem decide.
O importante é que, depois que morremos, outras bactérias se alimentam de nós. Não faz diferença a cor, a classe social, ou o time de futebol. Temos o mesmo sabor no reino monera.
E da digestão de nossos corpos, as bactérias produzem amônia, que será re-aproveitada pelas plantas, ou transformada novamente em nitrogênio, re-iniciando o processo.
No final das contas, a amônia é um ótimo adubo. E nós somos amônia em embalagens estilizadas: Adidas, puma, ou qualquer outra multinacional, não importa: somos adubo.
Ninguém escapa a regra, nem mesmo as bactérias operárias que fazem a máquina funcionar. São substituídas por outras, re-postas. As engrenagens não param. Mãos de ferro. Modelo Henry Ford de industrialismo. Pois é, copiamos a natureza. A diferença é que a natureza não cobra impostos.
Diante de tantos “Res” seria importante (re)-pensarmos: Vale mesmo a pena nos colocar em um lugar inalcançável e exclusivo, inflando-se de nós mesmos, quando sabemos (o) que é re-all?



Notinhas de rodapé:

Re-all : (All) – “tudo” em inglês; tudo re-ciclável, re-utilizável, re-feito. – re-all – re-tudo.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

 Traço de dança.

Às vezes as palavras me faltam.
Sinto a necessidade de me agarrar a cada peça de qualquer grafia representada em uma folha velha, um caderno de notas, ou um laptop.
 Galgar em cada letra de forma ascendente até chegar à frase. Uma frase plana (e plena) que estruture minhas ideias da maneira que previamente pensei. Cada peça da grafia se junta, num plano, resultando em uma frase perfeita qualquer. Toda frase é perfeita. (aqui também caberia uma exclamação ou uma interrogação.)

Questão de observação. Há muitas palavras e várias maneiras de se ler a mesma. Como um disco, um quadro, uma moda.
Às vezes me sinto confuso entre letras sortidas, e o que me vem à cabeça é a ideia de que cada letra se encaixa de maneira única e pré-programada – erro meu, as palavras se divertem.
Completam-se sem qualquer capricho do destino: apenas o fazem. Sem regras, ordens, signos.
Recarrego meu pente com palavras e disparo ideias e ideais. Viu? Já estão brincando.

Costumo pensar que os acentos policiam as palavras. São dogmáticos, seguem as regras, são politicamente corretos e inflexíveis. São? Creio que mesmo com essa personalidade forte, os acentos se permitem alguns momentos de lazer, mudando de lugares entre palavras e trocando seus sentidos, causando surpresa e sorrisos abafados entre o alfabeto. Ninguém é de ferro.
Experimentar novos sentidos, infinitos. Muitos não conheço, serão futuro. Experimentar outro sentido, mesmo sem (tê-lo) tido.
As letras dançam. Uma valsa movimentada e cadenciada. A cada par, a cada música, novas palavras, novos sentidos. Como um tango ou uma bossa.
Não me sinto um bom regente, conheço e leio vários, “regentes de letras”, que embalam as palavras de forma única. Mas para ser um regente de letras não é preciso formação, apenas sentimento.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Pra não dizer que não falei das...de política.

Chega, já deu.
Não vou falar sobre o segundo turno da mesma maneira que não falei sobre o primeiro. Não vou falar sobre os candidatos que não vou votar, nem de suas propostas, nem de seus discursos incoerentes. Não vou falar sequer dos candidatos-piada, e da falta de caráter e razão de quem os elegem. Não vou dizer que me sinto num beco sem saída, e que definitivamente perdi minhas esperanças quanto à presidência. Não, guardarei isso pra mim.
Sequer falarei sobre o candidato-robô, que tem seu script pronto a cada debate, provavelmente editado por algum mestre em estratégias políticas, e vomita palavras providenciais que encantam e enganam um Brasil semianalfabeto.
Sendo assim, também não serei justo se falar sobre o outro lado. Portanto não falarei do candidato que se esconde atrás de um (relativamente) bom governo que está findando. Um candidato que deixa dúvidas sobre sua integridade. Um candidato que se apoia em sua legenda e não em seus ideais.
O assunto sobre aborto me cansou, assim como o ensino sobre o criacionismo nas escolas, o estado laico, ou a questão da educação no Brasil que vem sempre na lanterna da fila das necessidades. Portanto, também não falarei.
Esse é um texto sobre o que não quero falar. Nesse momento, estou me juntando a outros milhões de cidadãos que, calados, fazem do cenário político esse teatro, e quem comanda, pode escrever a peça da maneira que quiser, pois sabe que sua plateia não se manifesta.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Contrastes

Disperso, ele acelera seu antigo carro, enquanto seu cigarro encandece entre seus dedos, incentivado pelo vento que entra pela janela.
Um pouco alto, e prevendo uma ressaca terrível de whisky, ele simplesmente dirigia, sem um destino definido. Não esperava, como nas outras várias noites, voltar alterado como estava. Sua melhor opção era matar o tempo, e assim amenizar o sofrimento da ressaca matinal.

Já em um ponto distante do centro, envolto às penumbras de arvores do que parecia ser uma praça, vultos disformes se agitavam. Conforme ia se aproximando, ele via um padrão na imagem. Algo se levantava e rapidamente baixava-se, causando um som abafado. Apertou seus olhos, concentrou-se na imagem, e aproximou-se.
Um homem de meia idade, aparentemente bêbado, surrava uma jovem com golpes impetuosos. Dava-lhe bofetadas na face enquanto a mesma tentava sem sucesso algum tipo de defesa.

- Sua vadia, você vai aprender comigo o que a puta da sua mãe não lhe ensinou!

Ele automaticamente parou o carro e abriu a porta. Enquanto movia-se para fora, pensava consigo que aquele tipo de coisa nunca terminava com final feliz. Para nenhum lado dos envolvidos, inclusive para quem se somava à briga.

- Tudo bem, ainda estou bêbado, isso é um ponto a favor.
Disse baixinho enquanto se encaminhava para o injusto combate.

- Escuta, sei que não conheço você, mas gostaria que você parasse de bater nesta jovem. O que quer que ela tenha feito, acredito que não justifica seu ato.

O que eu estou dizendo? Devia tê-lo parado primeiro, depois interrogado. Pensou.

- Cale a boca e saia daqui ou vou te arrebentar! Dizia enquanto segurava a moça pelas mãos, impedindo-a de se defender de seus tapas.

Olhando para a garota, ele pode ver as lágrimas descendo pelo seu rosto e manchando a gola de seu vestido. Seus olhos estavam vermelhos, a maquiagem borrada.

- Certo, creio que você não entendeu a parte em que era para você soltar a moça e ir embora daqui.

Enquanto falava, ele pôde perceber uma beleza escondida sob aquele olhar de medo. Ela tinha uma pele clara, média estatura e um corpo bonito. Vestia-se mal, mas com certeza não era esse o motivo da briga.

Quando ia tentar mais uma frase de efeito, viu que o homem já estava a poucos passos dele, quase sem tempo de desviar-se de um soco que seguia na direção de seu rosto.
Num reflexo que mais tarde seria sua desculpa para a prática diária da apreciação de whisky, ele se desviou e segurou a mão do homem, torcendo seu braço e jogando-o no chão com uma força inesperada. E que seria também agregada à sua agilidade nos seus discursos a favor do whisky.

- Rápido, liga para a polícia. Dirigiu-se à moça.

Ela pegou seu aparelho de telefone trêmula, tentou por duas vezes digitar os 3 números do socorro, finalmente conseguiu:

- Por favor, meu namorado estava me batendo muito e...

Enquanto ela falava, ele olhava para seu rosto e imaginava o que ela teria feito para sofrer uma agressão daquele tipo. Ela não parece ser uma pessoa culta, longe disso, seus jeitos sugerem uma pessoa com pouco estudo. Pode ser que até estivesse gostando da surra...
Caiu em si: Claro que não, ela mesma está ligando para a polícia. Preciso parar de basear meus julgamentos nesse tipo...

- Pronto, eles estão vindo. Disse soluçando.
Ele não conseguia parar de pensar que por baixo daquelas vestes bizarras e de seu linguajar vulgar, se projetava uma jovem com traços muitos belos. Inesperadamente belos.

Segurando os braços do homem e pressionando sua cabeça contra o chão, ele conseguiu esperar os 10 minutos que a polícia levou para chegar ao local.
O homem foi colocado em uma viatura, e o policial se dirigiu à jovem:

- A senhorita precisa ir à delegacia prestar queixa.

- Não quero ir agora. Dizia ainda chorando. - Não tenho condições.

- Tudo bem, a senhora confirma a agressão e se compromete a prestar depoimento amanhã na delegacia? Ele ficará detido esta noite.

- Tudo bem, amanha vou estar melhor.

- Eu irei com ela amanha, disse o outro. Afinal, eu sou testemunha.

- Tudo bem, você leva a jovem para casa?

- Pode ficar tranquilo policial, o pior já passou, Levo sim.

Ela entrou no seu carro e antes que ele desse a partida, perguntou se ela estava bem, se havia se ferido.

- Eu estou bem, acho que o maior foi o susto. Sabe, ele sempre foi esquentado e já levantou a mão pra mim outras vezes, mas que ele bateu mesmo foi a segunda vez.

Então eu não estava errado. Esse deve ser o tipo de mulher que gosta de apanhar. É triste, não sei, meio sádico. Acho que esse tipo de gente sente um pouco de prazer sofrendo...

- Não vou aguentar mais isso sabe? Ele deve pensar que gosto de apanhar, NÃO GOSTO! NÃO SOU ESSE TIPO DE MULHER!

É eu estava errado. Ela não deve ser mesmo esse tipo de mulher. Menos mal, talvez ela consiga um cara que a trate bem.

- Calma, eu sei que você não gosta. Ninguém gosta. Mas jurava que você era esse tipo de mulher...

- Ele disse que eu estava olhando para outro cara na festa, sabe, talvez eu estivesse olhando, mas sem intenção de nada, era um rapaz que estava chamando a atenção de todas as garotas da festa. Acho que isso é normal, não é?

- Claro, não se culpe. É como sempre digo: beleza é universal. Não há problema algum admirar.

Ele olhou para seu rosto e viu uma marca quase perfeita de uma mão, num tom vermelho, que se contrastava com o claro de sua pele.

- Nossa, deve estar doendo. Ele realmente bateu com força.
Apontou para a marca

- Sim, acho que desse lado pegou em cheio.

Ele levou a mão à seu rosto, e acariciou o lugar que estava vermelho.

- Vamos pôr algo gelado aqui.

- Obrigada por tudo, não sei o que seria de mim se você não tivesse aparecido.

- Outra pessoa teria aparecido. Não foi nada.

- Que bom que foi você.

E repentinamente ela lhe deu um beijo rápido, mas que demonstrava todo sentimento de agradecimento. Ele sentiu um leve gosto de vodca. Odiava vodca.

Depois de conseguir gelo numa conveniência, ele comprou duas cervejas e parou em um local tranquilo, para que pudessem conversar. Ela não era o tipo de garota que lhe chamava a atenção. Mas algo na sua aparência o agradava apesar de todo o resto lhe deixar desconcertado, as roupas, a conversa. Mesmo assim ele sentia que ela ainda merecia um pouco mais de atenção pelo que tinha sofrido.

Depois de quase uma hora de conversa, ela lhe contara quase tudo de sua vida. E ele, quase nada. Preferia assim.

- Preciso te agradecer mesmo pelo que você fez, sinto que lhe devo tanto...

- Já disse, não se preocupe, qualquer pessoa teria feito o que fiz.

Novamente num gesto rápido, ela lhe segurou pela nuca e beijou-lhe. Dessa vez um beijo demorado e febril, um beijo que deixava transparecer todo seu desejo. Sua língua explorava cada parte da boca dele.

Se ela não tivesse me beijado, talvez eu nunca tivesse feito. Ela não é o tipo de... Mas ao mesmo tempo me sinto bem por estar acontecendo, algo nela me atrai...


E embalado nesse pensamento ele se deixou levar. Explorava o corpo dela, e suas mãos sentiam cada saliência de sua anatomia.
Ele agora agradecia o fato de ela estar de vestido. O mesmo vestido que ele julgara bizarro há pouco.

Num frenesi que esquentava toda a atmosfera de dentro do veículo, e sentindo seus hormônios borbulharem, ele disse:

- Vamos para um lugar mais tranquilo.

Sem esperar a resposta ligou o carro e saiu rapidamente. Ele sabia qual seria a resposta.

Quando chegaram ao quarto de hotel, ficaram sem roupas em questão de segundos. Todo toque de pele era sucedido de algum tipo de eletricidade. Algo que os unia entre suspiros e gemidos emitidos a alguns decibéis.

Após várias preliminares, ela virou de costas e inclinou suas nádegas, afim de que ele lhe possuísse naquela posição.
A imagem de seu corpo nu e sua pele tão clara, o deixou mais fora de si do que já estava. Ele segurou sua cintura fina e deu a ela o que ela queria. O que eles queriam.

Naquela mesma posição, no ápice do desejo, os dois suavam e gemiam como atletas. O gemido da garota se transformou em um pedido:

- Por favor, me bate vai.

Sem pensar, e se deixando levar pelo seu desejo literalmente incontrolável, ele deu um tapa com muita força em uma das nádegas da jovem. Viu que ela gostara.
Após alguns segundos, ainda naquela posição, olhando para o local do golpe, ele viu uma marca vermelha.
Era uma marca avermelhada que fazia o esboço perfeito de sua mão, contrastando com a claríssima pele da jovem.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

T.C. Blues

Indo de encontro com o que perdi.
Agora não mais.
Não mais frases envoltas em fumaças
Não mais a fragrância etílica nas quartas feiras sob as frias estrelas.
Não mais a sensação jovial de se tudo-poder.
Os mesmos sons, a mesma melancolia.

A melodia em acordes menores estabelece
uma ligação com o passado.
Retorno, em sua perfeição, a tempos felizes de outrora.

Felicidade? Contemplo-a agora na mais simples e inocente verdade.
O que me retorna é a nostalgia de uma felicidade diferente, não melhor, mas uma felicidade passada.

E tudo que se passou envolto em fumaças, álcool, acordes melodiósos e grandes amigos, hoje se tornaram lembranças.

Sozinho, fotografo aleatoriamente coisas em meu quarto. Meu instrumento, cigarros, minha máquina de escrever moderna. E tento reviver os sentimentos de alguns anos atrás. E esses... esses nunca morrem.

domingo, 13 de junho de 2010

Sugando a vida!

Citações do livro "A vida nos bosques" - Thoreau.

Escolhi alguns trechos desse livro maravilhoso. Ordenei por assunto. Vale muito a leitura.

Sobre bens materiais:

“...É como se todos esses tarecos estivessem afivelados ao cinto de uma pessoa que não se pudesse mover ao longo de um terreno acidentado em que nossas linhas foram lançadas, sem arrastá-los. – Arrastando sua armadilha. Felizarda a raposa que deixou seu rabo no laço”
“Se és observador, há de ver atrás do homem tudo que ele possui[...] e com os quais parece equipado e vai avançando como pode. Penso que um homem está num beco sem saída, quando ao ter atravessado um buraco na madeira ou um portão seu carrinho de mão com a mudança não pode segui-lo.”

Sobre o capitalismo:

“Mas aprendi então que o comércio amaldiçoa todas as coisas que toca; e ainda que negocieis mensagens celestes, a maldição inteira do comércio acompanha a transação."

Sobre a filantropia:

“A bondade do homem não deve ser um ato avulso e transitório, mas um transbordamento constante que não lhe custe nada e do qual esteja inconsciente. Eis a caridade que esconde uma porção de pecados.”
“Não vos limiteis a ser provedores de pobres, mas tentai tornar-vos as próprias riquezas do mundo.”

Sobre o regresso às origens:


“Portanto, se fôssemos de fato restaurar o gênero humano por meios genuinamente indígenas, botânicos, magnéticos ou naturais, caberia em primeiro lugar, sermos nós mesmos simples e bons como a natureza, dissiparmos as nuvens que pendem sobre as frontes, e enchermos com um pouco de vida os poros.”

terça-feira, 18 de maio de 2010

O que já foi nosso...

Tive o prazer de crescer ouvindo boa música. Quando criança, me lembro de brincar com um amigo de infância ouvindo cazuza, blitz, Barão Vermelho.

Ele tinha um irmão mais velho que era adepto ao rock n’ roll, e ali, minha vida mudava aos poucos e eu nem percebia.

Na década de oitenta, com a explosão de bandas do circuito de Brasília, Rio e São paulo, crescia de igual forma a vontade de se cuspir todo ódio contra o sistema opressor da época: a ditadura. Anos calados inflaram o ânimo daqueles jovens que queriam liberdade. E eles pediam por isso em suas músicas.

Havia um motivo, sempre houve. Mesmo as letras sobre amor, ou romance, eram de um fundo poético notável.

Musica era atitude. A música mudava uma geração inteira. Propunham temas para se pensar, para se agir.

Me lembro de iniciar minha puberdade viciado em legião urbana, e mesmo não tendo algo pra lutar, me sentia indignado, revoltado. Sabia que havia muito o que mudar.

Renato Russo tinha razão, Cazuza tinha razão. Assim como outros vários artistas que seguiam aquela maré de mudanças.

E no decorrer da adolescência ganhei muitos heróis: Engenheiros, Titãs, Paralamas, Kid Abelha, Lulu Santos, e tantos outros músicos que me maravilharam com suas letras fortes e suas melodias marcantes.

Os anos se passaram, e muita coisa mudou. E não foi para melhor.

A rebeldia deu lugar a comodidade e ao vazio. Bandas nascidas em condomínios de luxo, sem letras, sem notas, sem sentimentos. Aliás, falsos e exagerados sentimentos.

As paradas de sucesso substituiram meus heróis por produtos. Feitos para vender, e vender muito. Atingem um público que foi previamente influênciado por anos de manipulação da mídia (por mais anárquico que isso possa parecer, é real).

Os verdadeiros artistas ficaram calados, se silenciaram. Estão apagados diante de um brilho falso e infame de pré-adolescentes com roupas coloridas e cabelos sem cortes dizendo coisas sem sentido, chorando sentimentos ou falando de perdas ou sofrimentos dos quais nunca sofreram. Ao menos não na vida real.

Tenho medo quando penso no futuro da música em geral no meu país, não digo só do rock, até porque ele anda muito doente a um bom tempo. Sei que meus filhos crescerão no meio de lixos sonoros e letras vergonhosas. Isso já é real.

O que resta é resgatar o que foi registrado. Os bons discos, as obras de arte dos meus heróis não desaparecerão tão cedo. E até lá, eu lembrarei pelas músicas de uma época passada que já fez algum sentido.

sábado, 27 de março de 2010

Combo - [Título para representar dualidade na "gramática" atual]

Untitled

"Nada detém quem não se detem"
...A liberdade não é negociável...

Eram suas primeiras linhas.
Ele sempre quis que suas idéias libertárias saissem do papel.
O velho caderno de anotações e idéias-próprias sobre direções relevantes nunca fora revelado.

"Nada detém quem não se detem"

Mas ele se detia. E as idéias pressionavam seu interior como explosivos. Uma bomba de idéias. Uma supernova de novidades.
E os anos mantinham seu pequeno tesouro pessoal em um estúpido e desnecessário segredo. Ele sabia porquê.

Nada vem à tona a quem se detém.


1/2 verdade.

A idéia era me perder em equívocos.
O transtorno de outrora era agora alívio,
embora os fantasmas continuassem alí.

Meias verdades : verdades duvidosas por inteiro.
Se não me adequo, crio.
A verdade não os pertence, e não é minha.
Talvez não exista.
Talvez esteja lá fora.
Ou talvez surja e morra a cada nova atitude.
A verdade precisa ser sentida.